ESTAÇÃO RODOVIÁRIA ARGEMIRO DE FIGUEIREDO
Glauco Campelo, 1985.
DIMENSÃO NORMATIVA
A edificação não possui nenhum tipo de proteção de preservação legal.
DIMENSÃO HISTÓRICA
O primeiro Terminal Rodoviário de Campina Grande Cristiano Lauritzen estava localizado no centro da cidade e possuía uma linguagem moderna, contudo, não mais comportava a demanda de passageiros. Coube ao então prefeito Enivaldo Ribeiro, desapropriar e ceder um terreno ao governo do Estado, na gestão do governador Wilson Braga, que serviria para a construção de uma nova rodoviária para a cidade.
Inaugurado em 25 de maio de 1985, o Terminal Rodoviário de Passageiros Argemiro de Figueiredo, mais conhecido como Rodoviária Nova, está localizado no bairro do Catolé e conta com 104 mil metros quadrados de área total, sendo 10 mil metros quadrados de área construída.
O autor do projeto é o arquiteto Glauco Campelo, em parceria com o escritório paulista Marques da Costa, Aflalo filho e Barberis que propuseram uma cobertura única, estruturada em aço, grandes vãos que permitem uma transparência visual e funcional.
DIMENSÃO ESPACIAL
O edifício tem seu acesso pela Avenida Otacílio Nepomuceno, e seu terreno total ocupa todo o quarteirão. Encontra-se bem localizado por estar próximo a saída para a capital João Pessoa, o que facilita a função a ele competida, de carga e descarga de pessoas.
O partido adotado atende ao conceito de grande abrigo sombreado e aberto, alcançado pela adoção de extensa cobertura plana que confere horizontalidade à edificação, não se sobrepondo ao entorno imediato devido a sua locação no centro do lote e aos consideráveis recuos sobre os quais se articulam extensas áreas de solo permeável.
Pode-se observar que a relação sítio/estrutura formal arquitetônica, a inclinação do terreno favoreceu o embasamento em diferentes níveis, embora sua execução seja facilitada pelo solo de rocha decomposta que está presente na geologia do terreno trabalhado.
DIMENSÃO TECTÔNICA
O sistema estrutural da coberta é constituído por um sistema estrutural de treliça espacial plana composta por tetraedros formados por barras de alumínio esbeltas, apoiadas em colunas de concreto aparente de secção retangular distribuídos em módulos também retangulares.
A malha estrutural do sistema espacial de treliça plana permite pela repetição de seus componentes, além de vencer grandes vãos, a racionalização e produtividade defendidas pela tecnologia industrial. Por meio da simplicidade estrutural utilizada no projeto, alcança-se o princípio moderno da economia. No entanto, a idealização de leveza é diminuída, devido ao fechamento lateral da estrutura com paineis de alumínio ondulado.
O edifício possui um sistema estrutural de treliças espaciais planas compostas por tetraedros formados por barras de alumínio esbeltas, apoiadas em colunas de seção retangular de concreto aparente, com fechamento lateral da estrutura com painéis de alumínio ondulado, unido à cobertura ao baixo pé-direito do prédio.
O módulo estrutural da treliça espacial possui base de dois metros e meio por dois metros e meio (2,5m x 2,5m). Esse módulo se repete longitudinalmente oito vezes entre os eixos dos pilares, seis módulos e meio em balanço nas extremidades norte e sul, e doze módulos transversalmente entre os eixos dos pilares, como se pode ver na ilustração abaixo (DINIZ et al., 2019, s/p).
Diniz (2019) em estudo realizado observou que a definição desse módulo de dois metros e meio gera o módulo estrutural de (30m x 20m), que se repete nove vezes criando a lâmina de aproximadamente (180m x 62,5m).
Dividindo o módulo estrutural principal, percebem-se eixos secundários de dez metros (10m), onde é desenvolvida uma estrutura de mezaninos e boxes. Ou seja, aparentemente existem esses outros subsistemas que compreendem laje de concreto maciço, pilares que suportam essa laje estão coordenados com a dimensão do módulo gerador.
A utilização da estrutura metálica em treliças espaciais proporcionou a geração de um grande vão com a necessidade de poucos pilares, e a utilização de um material leve e de rápida montagem.
A sua volumetria consiste em uma grande cobertura com grandes balanços que permitem o sombreamento dos espaços, enquanto os demais volumes construídos, os blocos das lojas e da bilheteria, são independentes, desligados da estrutura da coberta, dando fluidez ao espaço.
As lojas sobre o mezanino têm o fechamento em painéis de madeira e vidro, que amenizam a sensação de clausura, visto que estes ambientes possuem pouco espaço, enquanto na bilheteria foi utilizado vidro translúcido nos painéis de fechamento, acentuando seu caráter maciço.
Ainda é possível notar que o revestimento cerâmico em alguns blocos de serviço, que foi utilizado, primeiramente, tendo em vista a sua manutenção, colaborou para que houvesse um resultado estético, que se deu graças ao contraste de cores e texturas, entre materiais cerâmicos e metálicos.
DIMENSÃO FORMAL
A linguagem adotada na edificação foi o brutalismo, que pode ser compreendido como:
Termo de cunhagem relativamente recente, entretanto não é fácil definir-se o brutalismo de maneira acurada e isenta. Tão usado quanto esnobado pela literatura arquitetônica da segunda metade do século XX, está longe de configurar um conceito unânime, as diferentes acepções que lhe são atribuídas superpondo-se de maneira pouco clara, parecendo ser uma só quando são muitas, e para deslindá-las é necessária certa paciência de detetive. (ZEIN, 2007; s/p)
O brutalismo adota como critério a verdade construtiva das soluções estruturais, e de materialidade, deixando à mostra, todas elas, para serem percebidas pelos usuários.
No caso em pauta, o sistema construtivo do aço domina a forma, reforçando a relação arquitetura/ forma/ estrutura, comprovando a tese de que, quem projeta a forma, projeta a estrutura.
Segundo Rebello (2000, p.26): “Não se pode imaginar uma forma que não necessite de uma estrutura, ou uma estrutura que não tenha uma forma. Toda forma tem uma estrutura e toda estrutura tem uma forma”. Quem cria a forma, cria a estrutura: a forma e a estrutura nascem juntas.
Na verdade, a concepção de uma forma implica na concepção de uma estrutura e, em consequência, dos materiais e processos para materializá-la. A estrutura e a forma são um só objeto, e, assim sendo, conceber uma implica em conceber outra e vice-versa. E sem dúvida, essa obra, exemplifica bem tal colocação realizada pelo professor paulista.
DIMENSÃO FUNCIONAL
A edificação sempre manteve a sua função original. O embasamento em diferentes níveis interligados por rampas em meio lance contribuiu para a distribuição linear das atividades e diferentes funções ao longo do eixo longitudinal do edifício, que possibilitaram a apreensão rápida e geral do espaço do terminal pelo usuário quando este chega à área de embarque e contribui para sua funcionalidade:
A localização estratégica das bilheterias permite fácil identificação e acesso; o saguão de espera e portões de embarque pode ser acessado utilizando-se apenas meio lance de rampa.
A ausência de cruzamento de fluxos de embarque e desembarque foi permitida pela localização das respectivas plataformas situadas nas extremidades opostas do grande saguão linear, interligadas pelo extenso espaço contínuo e fluído, onde se distribuíram os serviços de lanchonete, telefonia, entre outros.
Entre esse saguão de espera e as plataformas de embarque e desembarque apresentam, em sua maioria, espaços destinados a uso comum, como polícia rodoviária, juizado de menores, sanitários, depósitos, guarda-volumes, entre outros.
A interrupção desses blocos de serviços pelos portões de embarque e desembarque promove a comunicação direta entre a espera e as plataformas dos ônibus. Encontram-se no mezanino, o restaurante e os blocos de pequenos comércios distribuídos de modo a não interromper a fluidez do espaço e a comunicação com o exterior.
DIMENSÃO DA CONSERVAÇÃO
Segundo o engenheiro de manutenção do terminal, Luiz Carlos Gomes, a rodoviária de Campina Grande esta entre as estruturas físicas mais bem conservadas do país.
Em pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Empresas de Transportes Terrestres de Passageiros (Abrati) contatou-se que a rodoviária de Campina é a terceira melhor do Nordeste, perdendo apenas para Salvador e Maceió.
Está em primeiro lugar na região, entre as que possuem administração pública, e foi eleita a 16ª do país. Quatorze empresas de transporte de passageiros fazem linhas intermunicipais e interestaduais, com destinos às várias cidades da Paraíba e do país, pondo a disposição dos usuários ônibus diários.
Apesar de todos esses dados positivos em relação ao Terminal Rodoviário Argemiro de Figueiredo, seu fluxo de passageiros vem diminuindo nos últimos anos. Em média o número de embarque e desembarque fica em torno de três mil, 30 % em relação há 10 anos. A queda no número de passageiros se deve na maior parte ao aumento do transporte alternativo (que cobram o mesmo valor da passagem dos ônibus, ou até menos) e ao continuo funcionamento da Rodoviária velha que recebe ônibus vindos de várias cidades circunvizinhas.
A diminuição no fluxo de passageiros ocasionou o fechamento de 50 % das lojas existentes no local. Hoje, são 34 boxes em sua totalidade, no entanto, nem todos funcionam diariamente, além de contar com baixo movimento.
Afonso e Sobreira (2016) analisaram a obra de Glauco na cidade, tendo alguns resultados publicados no artigo: “A permanência dos critérios modernos na obra de Glauco Campello. Estação Rodoviária Argemiro de Figueiredo. Campina Grande. PB”. Sendo portanto, uma referência para maior aprofundamento sobre a mesma.
REFERÊNCIAS
AFONSO, A; SOBREIRA, C. A permanência dos critérios modernos na obra de Glauco Campello. Estação Rodoviária Argemiro de Figueiredo. Campina Grande. PB. Anais do 6º Docomomo Norte Nordeste, 2016, Teresina.
DINIZ, D. C. S. et all. Estudo monográfico processo de racionalização no Terminal Rodoviário Argemiro de Figueiredo. Campina Grande: trabalho para a disciplina tecnologia do ambiente construído, 2019. CAU. UFCG.
REBELLO, Y. C. P. A Concepção Estrutural e a Arquitetura. Editora Zigurate, São Paulo, 2000.
ZEIN, R. V. Brutalismo, sobre sua definição. (ou, de como um rótulo superficial é, por isso mesmo, adequado). Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 084.00, Vitruvius, maio 2007.